O projeto do Ferroanel prevê o equacionamento de um grande gargalo ferroviário: a disputa entre as passagens de trens de carga e de passageiros na Região Metropolitana de São Paulo. Com a grande demanda pelo transporte de pessoas, as mercadorias só podem atravessar a Grande São Paulo de madrugada, da 1 às 4 horas, e em alguns curtos períodos da tarde.
De acordo com a Secretaria Estadual de Logística e Transportes, essa concorrência só poderá acontecer até 2015. O motivo é a demanda e a modernização do sistema de transporte de passageiros na região metropolitana paulistana. Esses dois fatores vão atingir níveis que vão inviabilizar o escoamento de cargas ferroviárias como ocorre atualmente, através da área urbana.
É esta concorrência entre cargas e passageiros que faz com que o início das obras do Ferroanel seja imprescindível em agosto. Isto porque pelo menos o Trecho Norte do anel ferroviário precisa estar concluído em 2015. A ideia é conciliar as obras do Rodoanel, que vão começar no mês que vem, para reduzir gastos e agilizar os serviços.
“Fui à Brasília avisar ao ministro (dos Transportes, César Borges) que o prazo está acabando, mas ainda não tive resposta. Eu disse: ministro, se o senhor não fizer agora, vai ter que pagar R$ 3,5 milhões pra tirar a torre pra fazer o Ferroanel”, explicou o secretário de Logística e Transportes do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho.
Ele se refere às torres de energia que precisarão ser retiradas para a construção do Rodoanel. Segundo o secretário, a remoção e a instalação em outros lugares custa R$ 3,5 milhões. Se o Ferroanel fosse construído ao mesmo tempo, o Governo Federal arcaria com apenas R$ 400 mil da instalação.
“Nós estamos em uma fase em que todo mundo concorda com o diagnóstico e com as soluções, mas é impressionante como ninguém implanta. É um negócio que não tem explicação”, afirma o secretário.
O Ministério dos Transportes foi procurado para falar sobre a construção do Ferroanel, mas, até o fechamento desta edição, não se pronunciou.
Além da economia de R$ 1,5 bilhão com a construção do Ferroanel junto com as obras do Rodoanel, também haverá redução nos custos e tempo de transporte de cargas.
Um vagão é capaz de transportar de 80 a 100 toneladas de grãos. Isso significa que cada um pode substituir até quatro caminhões nas estradas. Uma composição leva de 6,5 mil toneladas a 8 mil toneladas de mercadorias de uma só vez, retirando das ruas e rodovias 320 veículos de carga.
Projeto
O projeto do Ferroanel prevê a construção de 121,8 quilômetros de linhas ferroviárias. No Trecho Norte, que ficará entre Campo Limpo Paulista, na Capital, e a Estação Engenheiro Manoel Feio, em Itaquaquecetuba, 64 quilômetros de linhas serão implantados. Outros 57,8 quilômetros serão construídos para a implantação do Trecho Sul, que irá de Ouro Fino Paulista, em Ribeirão Pires, à Estação Evangelista de Souza, na Zona Sul de São Paulo.
A implantação do anel ferroviário demandará investimentos entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões, que virão dos governos estadual e Federal. A proximidade do trecho Norte do Ferroanel com as regiões mais industrializadas de Campinas, Ribeirão Preto e do Vale do Paraíba fará com que, por esta via, transitem cargas de maior valor agregado.
O eixo Campinas–Jundiaí– Região Metropolitana – Santos responde entre 70% a 80% do fluxo de contêineres do Estado. Todo o volumes era atendido pelo Ferroanel Norte.
Já o Trecho Sul terá a predominância do transporte de granéis em direção do Porto de Santos. A linha atenderá as cargas ao sul do País e algumas siderúrgicas localizadas no Interior do Estado.
Fonte: A Tribuna