Estudo foi realizado em Vicente de Carvalho, distrito de Guarujá (SP), na margem esquerda do Porto de Santos. Pesquisadores analisaram dados coletados ao longo de cinco anos.
Uma pesquisa realizada com bromélias revelou que a poluição na região portuária de Vicente de Carvalho, distrito de Guarujá, no litoral de São Paulo, é maior no inverno do que no verão. As plantas dispostas em saquinhos, em 43 pontos daquela região, filtraram cinco vezes mais partículas de metais pesados, como cádmio e cobre, na estação mais fria do ano.
O levantamento foi realizado entre 2015 e 2020 sempre nos meses de janeiro e fevereiro, no verão, e junho e julho, no inverno. O estudo foi realizado pela Universidade Nove de Julho (Uninove) em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semam) e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A constante passagem de veículos pesados por aquela região, como caminhões e carretas, é vista como fator causador da poluição que, de acordo com a análises da pesquisa, pode dar um panorama do que deve ser feito para melhorar a qualidade do ar.
A coordenadora da pesquisa e professora da Uninove, Andreza Portella Ribeiro, afirmou que a ideia da pesquisa surgiu justamente para analisar o impacto do grande fluxo de caminhões e outros veículos pela área portuária do lado de Guarujá — a margem esquerda do Porto de Santos.
No verão, segundo a pesquisadora, foram encontradas 1148 partes por bilhão (ppb) de metais pesados nas bromélias expostas na região da Rua do Adubo.
O número é 32 vezes maior do que o analisado nas amostras dispostas na Área de Preservação Ambiental (APA) Municipal da Serra do Guararu, que serviu como controle da pesquisa.
No inverno, a concentração passou para 5428 ppb. “Esse valor não é o que estamos respirando, é o que a planta acumulou ao longo de um mês”. Segundo a professora, a absorção de um elemento químico é diferente entre plantas e seres humanos.
coordenadora ressaltou que o impacto desses poluentes pode ser reduzido com o aumento de vegetação naquela região. “Guarujá tem 65% de fragmentos de mata Atlântica. Vicente de Carvalho tem 14% de área verde, sendo 5% de árvore”.
Para a pesquisadora, o estudo revelou que há enriquecimento de poluentes no local e a presença do cádmio na bromélia ocorre por causa da frota de caminhão. “Se considerar uma área de conservação limpa, a planta tem um enriquecimento muito grande”.
Doenças respiratórias
A médica infectologista e professora da Uninove, Alessandra Pellini, afirmou que a ideia é explorar os dados obtidos e levá-los para a área da saúde.
“Existe um maior número de internações nos meses de inverno e as doenças crônicas descompensam no inverno. Foi uma coincidência [o resultado da pesquisa]? Não dá para afirmar, preciso de mais dados para entender a determinação do poluente na internação”.
O superintendente de Meio Ambiente, Saúde e Segurança do Trabalho da Autoridade Portuária de Santos (APS), Sidnei Aranha, destacou três lições que a pesquisa ensina.
A primeira, a médio prazo, trata da necessidade da APS e da Prefeitura de Guarujá reflorestarem o município.
A segunda depende da obra na Perimetral, conforme anunciada pelo Ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho. “Nós precisamos, e a pesquisa demonstra isso, separar o trânsito pesado que acessa a margem esquerda do trânsito normal [veículos de passeio]. E, quando separarmos, vamos conseguir fazer cortinas verdes”. Isso, segundo Aranha, deve diminuir o impacto causado pela emissão de CO2 [dióxido de carbono].
Já a terceira lição, segundo o superintendente a mais importante, se refere ao túnel de ligação seca. “A pesquisa demonstra que o túnel deixa de ser uma obra só de mobilidade urbana e passa a ser de caráter ambiental”.
Fonte: G1 Santos e Região – Porto e Mar